segunda-feira, 19 de setembro de 2016

SUPERAÇÃO

SUPERAÇÃO


A cada etapa Randonneur encontramos ciclistas novos (experientes ou não), com motivações das mais variadas para enfrentar o desafio. Nos primeiros Brevets que tivemos participação (seja pedalando ou organizando) víamos alguns atletas e pensávamos: "Será que consegue?". Hoje, depois de passar por várias experiências, não duvidamos da capacidade daquele que está focado e determinado.

Sem muitas delongas, compartilhamos o depoimento do Sr. José Luiz, que mesmo com todas as dificuldades superou-se no BRM 200, mostrando-nos o que é o Randonneur e o quanto podemos desafiar nossos limites.



Bom dia a todos
Sou José Luiz, tenho 58 anos, peso 96 kg, sofri um infarto aos 49 anos incompletos, estou pedalando há pouco mais de ano e meio e é meu primeiro Audax.
Fui o último a chegar, completei a prova em 13:10, uma experiência indescritível. Até então meu recorde era de 117 km em 8:00.
Quando eu vi no calendário que haveria esta prova no dia 10/09/2016 em Goiânia eu fiz logo minha inscrição. Não me sentia preparado. Porém, não poderia deixar passar a oportunidade. Seria uma prova em casa e num trajeto que nunca havia pedalado e que eu conhecia muito bem de carro. Sabia das condições adversas de temperatura, umidade de ar, intensidade do sol, direção dos ventos, subidas íngremes e intermináveis.
Após a inscrição, percebi por várias vezes o pensamento de desistir e não participar da prova. Perseverei e intensifiquei os treinos em pouco mais de mês que restava para o evento. Preparei a máquina e meu espírito. Às 5:30 do dia 10/09 eu estava me apresentando diante da equipe organizadora e recebendo meu número de participante, o 25, colei-o no capacete e saí às 6:00 com os demais.
Todos bem mais jovens que eu. Muitos deles pesavam menos da metade do meu peso e certamente tinham menos da metade de minha idade. Aos poucos foram se distanciando e eu ficando para traz.
Eu estava por chegar no P2, uns 25 a 30 km do ponto de retorno e comecei encontrar ciclistas já de volta no outro sentido da pista, significava que eles estavam uns 50 a 60 km na minha frente. Pensei, não me importo eu estou dentro do prazo previsto e nas minhas condições físicas e mentais. Não fui o último a chegar. Até este ponto tudo parecia normal, a quilometragem, o tempo, o sol, a hidratação, a alimentação, etc. Me alimentei bem, descansei um pouco, me despedi dos que ainda estavam no PC e segui minha viagem até o ponto de retorno às 12:34.
A partir daí o sol foi esquentando cada vez mais. As paradas para beber água se tornaram mais frequentes, a camisa estava parecendo que havia tomado chuva, já não urinava mais porque a água saía tudo no suor, as sombras das árvores estavam do outro lado da pista devido a posição do sol, as subidas se tornaram predominantes e mais impiedosas, parecia que havia brasas no selim da bicicleta. Foi nestas condições que cheguei novamente ao P2.
Numa destas paradas para água, sempre próximo ou após vencer o top mais pesado, eu andei alguns metros a pé empurrando a bicicleta. Percebi que ao retomar a musculatura respondia melhor. Tomei isso como estratégia daí por diante. Sempre atento ao relógio. De nada adiantaria se chegasse fora do prazo.
A esta altura, havia ultrapassado a casa dos 150 km, havia superado as subidas mais pesadas, o sol já estava mais baixo e menos escaldante. O corpo pedia para parar, a mente mandava continuar. Enchi-me de energias internas e mentalmente me empurrava: Vamos lá Zé, só faltam 50 km; Força que você consegue; O pior já passou; e muitas outras frases afirmativas e desafiadoras de mim para mim mesmo. Era meu espírito alimentando o físico de energias que o próprio físico por si só não consegue assimilar. Em pouco tempo eu cheguei numa lanchonete. Vamos lá Zé, agora está perto, só faltam 20 km. As subidas pareciam intermináveis. Mesmo assim, percebi que tinha reservas internas. Minhas pernas estavam bem, a coluna tranquila, as mãos e pés sem formigamentos. Continuei firme, buscando energias do meu interno, reabastecendo-me com energias extraídas do mais profundo de meu ser. Nestas condições venci a ultima das subidas. Quando avistei as luzes de Aparecida de Goiânia eu chorei de emoção. Havia superado o ultimo dos obstáculos. Ao chegar ao ponto final, havia muitos ciclistas e os organizadores. Foi uma grande festa.
Foi uma experiência incrível. Será mais ainda se esse relato servir de estímulo para outros que porventura tenham esse anelo de vencer um desafio e porventura é tomado de pensamentos que os fazem recuar.
Abraços a todos os guerreiros que pedalam por aí
José Luiz de Freitas Sobrinho

2 comentários:

  1. Parabéns pela dedicação e perseverança, esse é o espírito, não desistir, mesmo quando parece ser impossível.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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