Nesta semana que antecede o Brevet Vampirax, gostaria que compartilhar com todos a experiência da participação do Brevet Uberlândia 600 km organizado pelo Randoneiro Cristal na cidade de Cristalina-GO.
Mesmo com o impedimento de poder participar do Brevet 600 no dia 22/04, último da série Super Randonneur organizada pelo Clube Randoneiro Cristal, tivemos a satisfação de estar presente no Brevet da organização nesse último final de semana (29/04/17). Sabíamos que não seria nada fácil, afinal na semana anterior um grupo de ciclistas tinham feito o desafio de forma oficial e dos onze que iniciaram quatro conseguiram finalizar. Mas nada disso nos desmotivava e estávamos focados e com o objetivo de concluir dentro das 40 horas propostas.
A saída de Goiânia teve um pouco de atraso, sendo que o planejado era para sairmos às 14:00 e somente conseguimos pegar a estrada às 17:00. Isto impactaria bastante na questão física, pois teríamos menos tempo para descansar antes do início do brevet, que estava marcado para as 00:00.
Chegamos ao Hotel Sonho Verde às 21:00 e lá encontramos o amigo Hélio Henrique, responsável pelo desafio. Antes de retirar as bikes do carro fizemos uma boa refeição, a última do dia. A expectativa aumentava a cada tempo que passava e já tínhamos chegado à conclusão que não conseguiríamos repousar antes da saída. Começamos assim os preparativos. Retirada das bicicletas, vestimentas e itens para iniciar a jornada.
Por mais que façamos todo um roteiro e planejamento sempre fica algum detalhe ou algo não desejado. No momento da preparação e montagem dos equipamentos, ao fixar o farol no guidom da minha bicicleta o conector arrebentou. Foi um baque no psicológico, pois sem farol é impossível transitar pela rodovia, ainda mais em noite de lua crescente. Mas aí entra a importância da parceria. O companheiro de longas distâncias, Rodrigo Batista, estava mais que prevenido, havia levado três faróis além do principal, e logo me emprestou um desses. Alívio total. Sabemos que um Brevet é feito sem qualquer ajuda externa, um desafio de autossuficiência e para isso devemos estar bem preparados. Assim, cada um de nós estávamos com duas baterias reservas para os faróis, além de lanternas traseiras auxiliares e bateria externa para os dispositivos eletrônicos (celular e gps), além é claro das câmeras de ar e remendos. Junto a este kit, eu levei comigo um conjunto de roupa para troca no ponto de retorno. Não pesei quanto a bike aumentou, mas imagino que uns 3 kg a mais.
Ao finalizarmos todos os preparativos das bikes, partimos para as vestimentas. Como eu havia ficado pronto primeiro, encostei no sofá de entrada do hotel enquanto esperava o Rodrigo, e consegui dar um cochilo de aproximadamente 30 minutos. Quando o companheiro retornou também pronto, fomos informados que o Henrique não iria conosco e que se quiséssemos poderíamos sair a partir daquele momento. Entramos em acordo e às 23:30 iniciamos o tão esperado Brevet Uberlândia – 600 km.
Prontos para a partida
O tempo estava agradável, sem ventania ou sinal de chuva. Quase não havia movimento na rodovia e seguimos sentido ao primeiro PC, distante 80 km. Neste trecho sabíamos que havia apenas um ponto com opção para alimentação, 20 km após o ponto de saída. Inicialmente pensávamos em fazer a primeira parada neste ponto, porém como jantamos tarde e nos foi fornecido alguns sanduíches na saída resolvemos seguir direto. Às 02h14 chegamos no PC 1 (Posto Planet). Parada obrigatória, constatamos que tudo estava fechado, e devíamos ter parado no atendimento ao usuário da MGO 2 km antes, afinal lá havia pelo menos banheiro e local para descansar melhor. Mas foi um aprendizado. Fizemos um lanche com o que tínhamos, pão e água. rsrs. Como companhia os cachorros que vigiavam o estabelecimento. Partimos para um dos pontos crítico do percurso, a estrada para Ipameri-GO.
Chegada ao PC 1 - Posto Planet
Registro no PC 1 – Posto Planet (detalhe para o fiscal ao fundo)
Esse trecho já era conhecido dos brevets 300 e 400 que já havíamos feito, então combinamos que não forçaríamos como nos BRMs anteriores. Se antes tínhamos passado com o “sol de rachar mamona”, agora seria uma novidade, passar à noite, a princípio bem melhor. Mas um fator que não imaginávamos, a neblina.
Nessa parte do percurso há subidas que chegam a 11% de inclinação, mas para chegar à subida antes tem uma forte descida. O problema é que não tínhamos coragem de soltar o freio, pois a neblina estava muito densa e mal enxergávamos três metros à frente da bike. Tivemos também que administrar o sono, entre 4:00 e 5:00 paramos duas vezes para alongarmos e afastar o maldito sono. E assim seguimos até o PC 2 na cidade de Ipameri, chegando às 05h49.
Chegada no PC 2 – Ipameri-GO
O fato de termos saído mais cedo não foi uma boa estratégia. Chegamos em Ipameri-Go às 05h49, porém o comércio ainda não estava aberto e tivemos que aguardar até ás 06:10 para uma padaria abrir e tomarmos café. Decidimos aguardar esse tempo, pois a distância era dureza e não tínhamos reserva de alimento suficiente para seguir até o próximo PC. Ficamos parados em Ipameri-Go até ás 7h00, quando retornamos ao percurso.
Parada para café da manhã – Ipameri-GO
Já com claridade do dia seguimos para o próximo PC, a neblina ainda continuava, mas pelo menos a visibilidade era melhor. Neste trajeto fizemos duas breves paradas e apesar da subida ser maior, sentíamos que estávamos com melhor rendimento.
Subida com neblina – Ipameri-Go.
Final do trecho Ipameri / BR-050.
Terminado trecho Ipameri / BR-050, chegamos no PC-3 (Posto Paulistano) às 10h26. Novamente uma parada para recuperar as energias e um lanche com hidratação. Não demoramos muito tempo, pois iríamos almoçar 30 km adiante, no Posto Eldorado.
Passagem pelo PC 3 – Posto Paulistano
Registro lanche PC-3
No trecho do PC-3 para o PC-4 (posto JK), fizemos uma pausa no posto Eldorado para almoço. Ficamos aproximadamente 40 minutos e chegamos em Catalão (Posto JK) às 14h30.
Passagem pelo PC-4 (Posto JK)
Registro passagem Posto JK – Catalão
A passagem pelo PC 4 foi rápida, ficamos por 10 minutos e deixamos para fazer o lanche no trecho Catalão / Araguari. Esse foi o melhor trecho do caminho de ida, a maior parte descida até a chegada na divisa Goiás/Minas Gerais. Antes de atravessar a ponte, paramos para um lanche reforçado. Começaria as temidas subidas, e queríamos passá-las ainda com a luz do dia.
Divisa Minas Gerais / Goiás
Rio Paranaíba
As subidas para chegar até a cidade de Araguari pareciam intermináveis, e tínhamos a consciência que não devíamos fazer muita força, pois o retorno também havia subidas. Pouco antes da chegada em Araguari a fraqueza já dava sinal e o Rodrigo pediu uma parada para recuperar.
Aqui o filho chora e a mãe não vê.
Devidamente recuperados, continuamos as subidas. Faltando 10 km para chegar em Araguari vimos uma grande nuvem escura. Não queríamos pegar chuva, principalmente à noite, mas seria inevitável. A partir do momento que chegou à noite, a água veio junto. Foi algo tenso, mas nos adaptamos e com uma parada para encher as garrafinhas seguimos sentido Uberlândia-MG. Entre essas duas cidades há uma grande descida, mas devido ao tempo chuvoso não tinha como descer rápido e isso atrasou um pouco o nosso planejamento. Com muita cautela seguimos o trajeto. Chegamos no posto Décio às 20h11.
Passagem pelo PC 5 - Posto Décio (Uberlândia-MG)
Jantar antes do descanso.
Demos entrada no hotel deixando as bikes no quarto e seguindo para o jantar. Tínhamos como objetivo sair à meia-noite, então precisávamos agilizar para ganhar mais tempo de descanso.
Depois de toda arrumação, conseguimos iniciar a dormida após às 21:30. O despertador foi programado para as 23:45, e só conseguimos escutar às 00:10. Olhamos o tempo e a chuva ainda continuava, para nossa preocupação. Mas não tinha outra saída, nos arrumamos rapidamente e pegamos a estrada às 00:35. A ida até Araguari foi bem tranquila, alguns quilômetros após a saída não havia mais chuva, e com o asfalto seco conseguimos imprimir um ritmo de velocidade maior.
Passando por Araguari, fizemos uma parada para um lanche, afinal sabíamos que a próxima opção seria apenas em Catalão. No trecho antes da chegada à divisa GO/MG, no início de uma das grandes subidas, fomos surpreendidos por alguns cachorros. Senti uma beliscada na sapatilha e não sei de onde encontrei forças para fazer um grande ataque na subida. O Rodrigo foi mais esperto e ficou calado enquanto eu gritava desesperadamente e fazia força descomunal. Alguns minutos depois o sacripanta juntou à sua turma e deixou seguirmos viagem. Naquele ponto eu confirmei que era possível concluir em tempo.
Fizemos uma curta parada na passagem pela divisa, reidratamos e continuamos sentido Catalão. Uma longa subida de aproximadamente 30 km, e às 6:19 chegávamos no PC 6 (Posto JK). Fizemos o registro, tomamos um café, alimentamos e seguimos para o último trecho do brevet.
Passagem pelo PC 6 (Posto JK – Catalão)
Registro de Passagem pelo PC 6 – Posto JK
Às 7:00 saímos do posto JK e seguimos até o posto Eldorado, onde faríamos um lanche. A esta altura a impressão que tínhamos é que as subidas haviam dobrado, e não lembrávamos de ter descido tanto. Breve parada no Posto Eldorado, fizemos um rápido lanche e começávamos a fazer contas de horas para a chegada. O tempo limite aproximava e devíamos manter uma média de 20 km/h para podermos almoçar e chegar no prazo. Paramos no posto Planet para o almoço de 30 min e continuamos o trajeto. A passarmos pelo posto de atendimento MGO (km 535), enchemos as garrafinhas e restando 76 km ainda tínhamos 3 horas para conclusão. A cabeça não estava raciocinando muito bem e nas contas que fizemos com 20 km/h não conseguiríamos chegar no prazo. Apertamos o ritmo e conseguimos segurar a média próxima 28 km/h até o km 600. Quando vimos restava apenas 11 km para conclusão e uma hora para finalizar. Nesse momento aconteceu o único furo de todo o trajeto, mas já estávamos tranquilos com relação ao prazo. Paramos para troca da câmera e aliviamos a força.
Parada para troca da câmera. Único furo no percurso.
Seguimos os quilômetros finais agradecidos à Deus pela proteção dada, sem qualquer contratempo e cientes que foi um dos percursos mais desafiadores que fizemos na região.
Recebimento do certificado
Resumo do Brevet Uberlândia – 600 km
Agradeço a Deus pela oportunidade e pela saúde para realizar mais este desafio. À minha família que compreende os meus desejos de superação, aguardando o meu retorno com saúde. E ao meu amigo Rodrigo Batista, que mesmo sendo mais forte que eu e tendo condições de fazer o percurso em menos tempo, foi fiel ao compromisso de fazer uma ajuda recíproca.
Dedico este Brevet aos amigos do Audax Goiás, Ledson, Jhonson, Leonardo e Maurício, e também ao Ricardo (Bahia) e Júlia (Brasília), que embora não tenham completado o percurso, tiveram a coragem e determinação em participar, e que certamente enfrentarão novamente sem desanimo.